Pontos Finais - III/VIII
— Como assim, não tem
cerveja? — Bem que eu achei que “Toute
Sweet” não parecia ser um nome apropriado para um lugar que poderia vender
bebida alcóolica.
— Sério? Você pede
cerveja em um lugar chamado “Toute
Sweet”?
Viu? Sabia.
Com um
rolar de olhos da garçonete que aparentava ter seus trinta anos, pedimos alguns
doces e café. Peço um café com cobertura de Rum e creme. É o mais próximo de
“bêbado” que alguém pode ficar em uma confeitaria. Duas fatias de Cheesecake são colocadas na
mesa.
— Ouvi boatos de
que...
— Liesel está
interessada em mim. — o garfo escorrega da mão dela e bate na porcelana do
prato de
sobremesa. Os clientes olham para nós por alguns segundos e logo
continuam a comer.
— Pois é.
— Está incomodada?
— Por que estaria?
— Tocando no assunto
de repente...
— Foi só uma
observação.
— Enfim. Ela veio
falar comigo depois da aula, hoje mais cedo. Tem uma festa do outro lado do rio
ou algo assim — Dou uma garfada no cheesecake — de qualquer forma, não estou interessado.
— Se você diz... —
Hannah beberica o café como se fosse um passarinho.
— E o Arslan? Volta
quando?
— Não sei. Ele estava
em Istambul semana passada. Talvez tenha que passar uma semana ou duas em Doha.
Não sabemos ainda. — ela larga a xícara e passa alguns segundos observando
o vazio — Minha mãe não gosta de ficar
falando nele. Diz que sente ainda mais saudade.
Aysel é a típica mulher turca
casada com um alemão. Dona de casa dedicada, sentimental e regada em chorumelas.
Um filho que saiu de casa cedo demais, uma
filha debaixo de suas asas e o filho mais velho que volta para a Turquia. Arslan,
Hannah e Timur, respectivamente. Clássico e clichê.
— Acha que ele volta
para Berlim?
— Sinceramente? Não.
Está trabalhando numa dessas companhias petrolíferas. Deve estar rico, vive
viajando “a trabalho”. Claro que eu não posso dizer isso para a minha mãe, acho
que morreria. Arslan manda alguns dólares todo mês, uma caixa com alguns
presentes de vez em quando. Sabe que não precisamos disso. Manda pra encher o
coração da Anne de falsas esperanças. Baba nem fala mais nada sobre. Acho que
ele já percebeu o mesmo que eu.
Audo Müller, 56 anos.
Trabalha na Volks desde o governo Weizsäcker. Nasceu na Alemanha oriental, é
alto e loiro. E isso é tudo o que eu sei sobre ele. Hannah não fala muito sobre
seu Baba.
A
língua coça e a pergunta não sai. “E
Timur?”. Nós nunca falamos sobre “Timmy”, apelido pelo qual Hannah se
refere a ele. Na verdade, eu nada sei
sobre ele.
Mentira.
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