20 e tantos - "A incerteza do futuro, as ameaças do presente e os traumas do passado"

"Há poucos dias atrás, eu estava chegando à casa dos 20. Hoje, faltam aproximadamente dois meses para esse numeral ser acrescido de "+1". Embora eu me considere de “humanas”, afirmo que a vida e principalmente a fase dos vinte é um eterno MAIS (+) ou MENOS (-). Não digo isso apenas no sentido dos altos e baixos constantes que ela nos traz, mas também no sentido de escolhas. 
            Quando eu decidi fazer faculdade de psicologia, a de gastronomia teve que ficar para depois. Quando eu escolhi namorar e construir um futuro com o Matheus, o "Joãozinho" teve que ficar para trás. Entende? São sempre escolhas. Uma soma, acrescenta, prevalece. A outra fica pra depois, espera e, por vezes, some.
             Nascemos fazendo escolhas e morremos com esta capacidade. Contudo, a fase mais difícil de realizá-las é esta. Diversos fatores tornam esta fase uma das mais complicadas e desesperadoras da vida de uma pessoa. Uma delas é o mundo cada vez mais competitivo. O adolescente é forçado a crescer e assumir responsabilidades mais cedo, e como consequência, ter o peso de fazer escolhas certas mais rápido. O pior é quando ele erra. Não há espaço para erros. É vencer, vencer, vencer. A medida que os MAIS (+) 1, 2, 3 anos são acrescido a sua idade, menos tempo você tem para resolver sua vida profissional, amorosa e financeira. Até porque é "feio" ter 25 anos e morar com o pais. A onda é ser independente. 
            A pressão externa para que você seja o melhor o mais cedo possível causa uma pressão interna indescritível. Não é à toa que os casos de depressão e suicídio são mais frequentes em jovens. É difícil conciliar faculdade, trabalho, namoro, família e ainda ter um equilíbrio emocional. A incerteza do futuro, as ameaças do presente e os traumas do passado tornam tudo ainda mais doloroso. Os jovens, embora estejam frequentemente "conectados", dificilmente se conectam de fato, no sentido de interligar, unir. Costumam estar com a cabeça no trabalho que ficou para o dia seguinte, na pesquisa que deveriam ter feito, no livro da faculdade que deixaram de ler. Somos totalmente programados. Precisamos: concluir o ensino médio, arrumar um emprego, fazer faculdade, arrumar outro emprego, fazer a "pós", arrumar outro emprego ainda melhor. E ainda fazer um concurso público para ter uma vida estável. Aí sim, você será o "orgulho da família". Caso contrário, será motivo dos comentários das tias em festas. 
Certa vez, conversava com um colega de trabalho sobre como nós, jovens, perdemos ou investimos, depende do ponto de vista, tempo com trabalho e estudo. Nosso único objetivo é gerar meios de satisfazermos nossos desejos e alcançarmos nossa independência e o futuro brilhante. Porém, por vezes, nos esquecemos o que de fato importa: VIVER. Minha intenção não é dizer que trabalhar e estudar são esforços desnecessários. Pelo contrário, lutar para realizar seus objetivos é uma das formas mais bonitas de vitória, mas quero alertar que existem mais. A vida não pode ser baseada nisso. Do que adianta passar a vida inteira trabalhando e no final não ter com quem dividir a alegria? Fazer faculdade, pós, mestrado, doutorado e sei lá o que e quando atingir o auge do salário e conhecimento, não ter mais saúde para aproveitar a vida? 

Devemos planejar, batalhar e conquistar tudo que desejamos, mas nunca deixando de lado os pequenos prazeres da vida. Como, por exemplo, assistir a um filme em uma terça à noite, conversar com um amigo numa quinta à tarde ou até mesmo ter o prazer de não fazer absolutamente nada. O amanhã é incerto. O que importa, de fato, é o hoje. E quanto às pressões externas? Elas sempre vão existir, você só precisa ignorá-las."

Thainara Guedes tem 20 anos, é carioca, estudante de psicologia e achou uma boa dividir seu relato dos 20 e tantos com a gente. Está precisando desabafar ou achou a ideia legal e quer fazer o mesmo? Envie seu relato para euiwamura@gmail.com e entraremos em contato contigo, belê? :D

Comentários

  1. Esses são os considerados "Rebeldes sem causa."
    Será mesmo sem causa?

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    1. Se bastasse cada rebelde conhecer a própria causa...

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  2. E esse é o Matheus que ela mencionou no artigo haha.

    A dúvida é: pra que viver se eu posso estudar pra viver melhor?
    Mas no final de muitos, o resultado é de uma vida tão focado no futuro que parece nunca ter havido um presente.

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    1. O futuro constrói-se no presente, e estudamos para podermos viver um presente melhor num presente incerto que não é o presente.
      Nossa, acho que bebi café demais.

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