Pontos Finais - I/VIII
Que merda.
— HAAAAAAAAAAANS —
ouvi uma voz animada (e embriagada) dizer do outro lado da linha.
— Alô?
—Sitzplinker! Vem pra
cá! —Sinto o cheiro de vodka pela linha telefônica.
— Hannah? — Bêbada? De novo? Péssimo sinal.
— Não, é a aquela
bruxa fascista da Merkel. Quem mais seria? — Os pais dela têm brigado
demais.
Sempre que brigam, uma Hannah bêbada em algum lugar de Berlim me liga
depois da meia-noite.
— Onde você está?
— Não faço a menor
ideia.
— Olhe ao redor e me
diga o que vê. — Fiquei com medo de ela girar o corpo e ficar tonta demais
até para responder.
—Está escuro.
— Vá até o lado de
fora e tente ver algo.
— Tá. — A música
irritantemente repetitiva de antes começa a diminuir. Efeito Doppler e suas
maravilhas. — Ainda não consigo ver coisa
alguma.
— Esforce-se.
— Estou tentando... —
Um barulho terrível de repente. Durou uns 13 segundos. Efeito Doppler de novo, o barulho
diminuiu até extinguir-se.
—Fique onde está.
Estou indo te buscar. —Tausend. Não sei aonde a Hannah arruma
dinheiro pra frequentar esses tipos de lugar.
Levanto,
pego um casaco. Desço três lances de escadas e estou na rua. Vazia, claro. “Na
cidade que sempre dorme”. Ando até o
ponto com as mãos no bolso, o dinheiro para os tíquetes preso na mão. O S25 surge
vazio. O trajeto não dura ao menos 20 minutos. Chego ao famigerado bar. Ela
está sentada do lado de fora, chorando.
— Hannah... — Suplico apenas com seu nome. Ela levanta cambaleante e
eu seguro sua mão. Pouco depois, em silêncio, subimos no ônibus. Embora embebidos
(Eu, em silêncio. Hannah, em Vodka de procedência duvidosa) eu a deixo sã e
salva na porta de casa, a apenas algumas ruas de distância da minha. Schwedter Straβe, 52. Prédio rosa em estilo Art-Nouveau. Parece ter sido construído
especialmente para ela. Ou por ela.
— Até amanhã. —
Digo, beijando-lhe suavemente o rosto. Hannah parece confusa. — Tem um relatório sobre resistência elétrica
para entregar na aula. Não se esqueça.
— Tá bem...
Espero ela entrar no prédio.
A luz do corredor se apaga. Ando algumas ruas até chegar em casa.
Durmo
uma noite sem sonhos.
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